Engenheiro pernambucano é escolhido “inventor do ano” pela Intel
Entre os mais de 95 mil funcionários da Intel – a maior empresa do mundo no setor de semicondutores – um pernambucano de 40 anos ganhou o maior destaque. Carlos Cordeiro, engenheiro chefe e diretor da companhia na área de comunicação wi-fi foi escolhido, em cerimônia interna realizada em setembro no Dolby Theatre, em Los Angeles, o prêmio de Inventor do Ano das mãos do próprio CEO da empresa, Brian Krzanich.
Ou seja, se o Dolby Theatre é o lugar onde acontece a entrega dos prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (o popular “Oscar”), e Carlos recebeu o último troféu da noite, das mãos do chefão da empresa, quer dizer que ele ganhou o Oscar de Melhor Filme? “Dá para colocar dessa maneira, sim”, brinca o engenheiro pernambucano.
Mas, ao invés de produzir um longa-metragem, Carlos produziu conhecimento. Liderando o time de pesquisa e desenvolvimento na área de comunicação sem fio, ele registrou mais de 200 patentes para a Intel, sendo 65 só no ano passado – e 15 delas consideradas fundamentais, que podem ser utilizadas de modo mais abrangente – fora outras 400 patentes que estão esperando aprovação.
“Uma grande parte do que a gente faz é evoluir a tecnologia, criar novos produtos. Muito provavelmente, o wi-fi que você está usando agora, no seu computador ou smartphone, tem algum elemento que eu desenvolvi aqui. Agora, estou trabalhando no wi-fi que você vai usar daqui a cinco anos. Estamos sempre na ponta da pesquisa”, explica Carlos, que trabalha na Intel há 10 anos, depois de ter passado também pela Phillips e pela IBM.
Foi essa proficiência no desenvolvimento de ideias que rendeu ao pernambucano a premiação. “Já tinha recebido outras gratificações da empresa, mas nunca nesse porte”, reconhece Carlos. Formado em Ciências da Computação pela Universidade Federal de Pernambuco (onde também fez um mestrado), o engenheiro mora nos Estados Unidos desde 2001, quando foi convidado para trabalhar na IBM. “Minha formação na UFPE foi extremamente relevante na minha carreira. Na minha época, como hoje, é um curso de ponta, que além da formação teórica incentiva os alunos a buscar conhecimento e se aprimorarem”, lembra.
Foi na UFPE que Carlos teve seus primeiros contatos com empresas e professores do exterior. “Ainda em 1995, a Sun Microsystems tinha acabado de lançar a linguagem Java e fez um concurso mundial para aplicações feitas com ela. Montei um grupo com dois colegas e ficamos em terceiro lugar. Pouco depois ganhei uma bolsa de estudos do CNPq, ainda estudando na graduação, que me possibilitou terminar meu mestrado com menos de um ano de formado”, conta o engenheiro.
Os estudos publicados nessa época chamaram a atenção de um professor americano, que convidou Carlos para fazer seu doutorado nos EUA. “Quando a IBM me chamou, já tinha esse doutorado em mente. Tanto que entrei na empresa em janeiro de 2001, mas saí logo depois e comecei o doutorado em setembro do mesmo ano. Em menos de dois anos e meio concluí a formação, surpreendendo muitas pessoas da universidade”, completa.
Foi no doutorado em Engenharia da Computação que Carlos iniciou seus estudos em comunicação sem fio, que o levaram ao time de desenvolvimento de wi-fi na Intel alguns anos depois. “A empresa não é reconhecida por esse lado – é mais famosa pelos chips e processadores – mas comunicação sem fio é um setor bem grande aqui. Além de produtos em si, desenvolvemos muito conhecimento na forma de patentes”, conta o engenheiro.
O processo de se patentear uma ideia ou invenção é muitos mais simples (e incentivado) nos EUA do que no Brasil. “O modelo de negócios de algumas companhias se baseia só nisso. A Qualcomm (uma das maiores empresas do setor de semicondutores, e rival da Intel), por exemplo, tem no licenciamento de patentes quase metade do faturamento dela. Em outras empresas, isso chega a 100%”, afirma Carlos.
A cultura de empreendedorismo individual na criação de patentes nos EUA também é igualmente forte. O engenheiro pernambucano conta que muitas empresas são especializadas em comprar parte dos direitos das idéias criadas por pessoas comuns, patentear, vender e embolsar os lucros.
“Muitas empresas aqui dão, inclusive, uma bonificação financeira para quem desenvolve mais patentes. Eu, por outro lado, sempre fiz isso pelo prazer de inventar, de saber que uma coisa que eu criei está melhorando a vida de alguém, e que todo mundo usa. Mas claro que a parte da bonificação também é boa”, afirma.
Publicado por Renato Mota em INOVAÇÃO